PNAD: Mais de 1,5 milhões de pessoas passam fome na Paraíba

Na Paraíba 1,592 milhão de pessoas convivem com restrição de alimentos ou privação de alimentos e passam fome. A falta de comida nos domicílios paraibanos afeta principalmente as mulheres (811 mil) e as pessoas na faixa etária entre os 18 e 49 anos. Esse 'raio-X' da fome coloca o Estado como o sexto do Nordeste com população nessa situação e integra a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar 2013 – Insegurança Alimentar divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com a pesquisa, as vítimas de insegurança alimentar vivem em 443 mil domicílios e em 41 mil destes a insegurança é considerada grave. Mas os dados apontam que o número de pessoas que sofrem com insegurança alimentar na Paraíba caiu 5,12%, no período de 2009 para 2013, saindo de 1,678 milhão de pessoas em situação de insegurança alimentar, em 2009, para 1,592 milhão, no ano passado. Isso mostra que 86 mil pessoas deixaram de passar fome no Estado.
Já se compararmos os anos de 2004, que tinha 2,136 milhão de pessoas com insegurança alimentar, até o ano passado, a redução chega a 25,4%, que representa 544 mil pessoas que saíram dessa situação.
Conforme a pesquisa, na Paraíba predomina a insegurança alimentar de grau leve, com 1,071 milhão de pessoas, sendo 559 mil mulheres. Já a insegurança alimentar grave, quando a pessoa não tem o que comer, afeta 521 mil pessoas no Estado e os homens são as principais vítimas (269 mil).
Quanto à faixa etária dos moradores com insegurança alimentar de nível moderado ou grave, os dados mostram que 39 mil crianças, de 0 a quatro anos, passam fome na Paraíba. Já 120 mil crianças e adolescentes dos cinco aos 17 anos estão nessa situação. Outra realidade preocupante é que 242 mil pessoas dos 18 aos 49 anos também estão nesta situação.
RISCOS
A falta de alimentação adequada e até mesmo a privação da alimentação representa em uma série de danos ao organismo e, no caso de crianças e adolescentes, afetam o desenvolvimento psíquico e físico, resultando em sequelas ao longo da vida. Segundo a nutricionista Ana Paula Leal, a carência nutricional tem como principais consequências a imunidade baixa, dificuldades de aprendizado e locomoção, além de vulnerabilidade a outras doenças por falta de vitaminas e minerais.
“Pela falta de alimentação, o corpo começa a utilizar as próprias reservas de energia, mas vai chegar um momento em que a pessoa não aguenta e terá dificuldades. Ela pode andar mais lentamente, não se desenvolver fisicamente como deveria e ficar vulnerável à doenças. Se a pessoa permanece por muito tempo nessa situação ela pode até melhorar, mas será a longo prazo”, alertou.
Para o doutor em saúde coletiva e pesquisador da Universidade Federal da Paraíba Rodrigo Vianna, a situação de insegurança alimentar na Paraíba também está ligada à qualidade dos alimentos consumidos pela população. “Hoje temos observado uma diminuição da qualidade da alimentação e esta mudança esta sendo feita na direção de dietas obesogênicas, alimentos mais baratos, com alta densidade energética, muito açúcar, sal e gordura e com uma massiva carga de publicidade”, explicou.
O professor lembrou ainda que o Estado alcançou uma melhora com a redução das famílias em insegurança alimentar e que para a projeção continuar positiva são necessárias melhorias no acesso à água, educação, saúde e melhoria de renda. “O enfrentamento da insegurança alimentar é uma ação de inclusão social”, frisou Vianna.
FOME NÃO ESPERA
O presidente do Conselho de Segurança Alimentar da Paraíba (Consea-PB), Arimatéa França, informou que a entidade encaminhou as diretrizes para a elaboração do Plano Estadual de Segurança Alimentar ao governo do Estado, mas o documento não foi concluído. Por sua vez, a secretária estadual de Desenvolvimetno Humano, Aparecida Ramos, informou que a comissão responsável pela elaboração do Plano ainda está em formação e lembrou que o Estado dispõe de projetos de combate à fome, como os restaurantes populares, Programa Pão e Leite e Programa de Aquisição de Alimentos. "Somente os quatro restaurantes mantidos pelo Estado servem 4 mil refeições diárias. Acredito que estamos caminhando para a erradicação da insegurança alimentar e para isso precisamos nos articular mais com os municípios e persistir nos programas que já desenvolvemos", frisou Aparecida.

JORNAL DA PB

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